Nesse levantamento, em 2019, apenas 14% das escolas públicas declararam utilizar alguma plataforma ou ambiente virtual de aprendizagem, número que chegava a 64% nas escolas particulares, apontando então para diferença muito expressiva entre a rede pública e a rede privada. Outro dado relevante destacado em 2019 era a baixa formação de professores para tecnologias digitais, revelando que apenas 33% tiveram algum tipo de formação para uso do computador e da internet para atividades escolares.
Já o TIC Educação 2020, realizado também durante a pandemia, apresenta dados mais detalhados. Aponta, por exemplo, que apenas 21% das escolas (públicas e privadas) ofereciam atividades remotas antes da pandemia. Além disso, dentre os maiores desafios encontrados para a realização de atividades pedagógicas durante a pandemia aparecem como os mais apontados: dificuldades de pais/responsáveis para apoiar os/as alunos/as (93%) e a falta de dispositivos tecnológicos para acesso (86%).
Letramento digital
Além do acesso à internet e da posse de equipamentos digitais adequados, o chamado ‘letramento digital’ também é um fator de desigualdade, uma vez que nem todos os usuários têm intimidade com as tecnologias – dispositivos, redes de conexão, aplicativos, plataformas – para saber manejá-las corretamente. Os usos das tecnologias são muito diversos e se relacionam com diferenças ligadas a escolaridade, capital cultural, idade, tipo de inserção profissional, entre outras variáveis.
Saber fazer um currículo em um editor de texto on-line, organizar e catalogar correios eletrônicos ou mesmo realizar pesquisas na internet em fontes confiáveis (desviando-se das chamadas fake news) ainda são habilidades desigualmente aprendidas na sociedade brasileira, tornando-se um ‘privilégio’ de alguns grupos sociais.
Tendo a educação como foco, cabe questionar, cada vez mais, a conectividade como um ‘privilégio social’, quando já poderia e deveria ser compreendida como um direito. Este, aliás, é o entendimento da Organização das Nações Unidas (ONU), que já reconheceu o acesso à internet como um direito humano universal desde 2011.
Transformações decorrentes da pandemia
Se tais desigualdades digitais já eram conhecidas no Brasil, durante a pandemia, com a transferência do ensino presencial para o chamado ensino remoto emergencial – que dependia de acesso aos conteúdos educacionais por meio de equipamentos eletrônicos –, tais diferenças se exacerbaram. À educação básica brasileira, já tão profundamente marcada por diversas formas de desigualdade, somou-se mais um fator de iniquidade social.
Dados da Rede de Pesquisa Solidária publicados em boletim de agosto de 2020 mostram que, entre março e julho de 2020, mais de 8 milhões de crianças de 6 a 14 anos não fizeram quaisquer atividades escolares em casa. Durante o mês de julho, enquanto apenas 4% das crianças mais ricas ficaram sem qualquer atividade escolar, tal número foi de 30% entre as crianças mais pobres. O relatório conclui: “Com a omissão do Estado no acompanhamento das famílias mais pobres, a diferença de atividades realizadas em casa, entre pobres e ricos, pode chegar a 224 horas, o equivalente a 50 dias letivos”.