Linguagem viva
A professora explica que a ideia que temos de idioma e linguagem pode não ser a mais adequada para se pensar em termos educacionais: “Temos a tendência de pensar a língua de maneira fechada e monolítica, sempre no singular – a língua portuguesa, a língua inglesa; e geralmente em uma associação geopolítica que cola uma língua em um País”.
Contudo, as línguas são dinâmicas e fluidas e habitam as mentes humanas e não os territórios, explica Lívia. Uma vez aprendidas, as línguas passam a fazer parte do repertório do indivíduo e independe de sua posição geográfica no globo. “Se assumimos essa visão mais heterogênea e humana das línguas, também teremos uma outra perspectiva para pensar a questão. Colocaremos como foco as práticas sociais e a comunicação em uma perspectiva que não isola essa língua”, argumenta a professora.
Aprendizado social
Lívia explica que para aprender a língua na tenra idade é preciso que o aprendizado de idiomas seja unido com vivências sociais e culturais: “Não há dúvida de que a infância é um período de muitas descobertas e aprendizagens, e se uma criança já começa a transitar como possibilidade de interação e comunicação, em vez de barreiras para comunicação, a experiência de aprender línguas fica enriquecida”.
A professora explica também que existem diferentes formas de se organizar o aprendizado bilíngue nas escolas de educação infantil: “Há diferentes formas de organização da educação escolar e bilíngue. Chamamos de subtrativa essas escolas que promovem ações de transição e adaptação do idioma. Outras trabalham na perspectiva da educação bilíngue aditiva, no geral presente em programas de escolas bilíngues de prestígio, que separam em cima dessas línguas, às vezes chegando ao ponto de ter duas equipes docentes distintas”.
Contudo, esses dois tipos de educação trabalham numa perspectiva monolítica, que separa a vivência social e cultural das duas línguas. Arranjos educacionais que não separam as duas línguas são encontrados, por exemplo, em escolas ligadas a uma linguagem ancestral, como no caso de comunidades indígenas e de imigrantes. “Há também o que chamamos de educação bilíngue dinâmica, em que as escolas propiciam o estudo das línguas, culturas e conteúdos curriculares de forma integrada, muitas vezes por meio de projetos e propostas didáticas em que as crianças e os seus professores transitam entre as línguas com naturalidade e ambas são consideradas línguas de instrução” explica Lívia.
Seja qual for o modelo empregado, estudar outro idioma logo na infância e juventude é de vital importância: “O estudo bilíngue traz outros benefícios às crianças além do ganho de conhecimento sobre um novo idioma. O principal é que educar crianças em um contexto multilíngue diz respeito à possibilidade de experimentar e explorar diferentes maneiras de interagir e de ser com outras pessoas, uma atitude tão importante, mas tão difícil de cultivar em tempos de pouca tolerância”, conclui Livia de Araujo Donnini Rodrigues.