Educação integral: desafios e perspectivas nas escolas brasileiras

O termo “educação integral” é uma redundância. Esse é o entendimento da escritora Jaqueline Moll, autora de diversas obras sobre o tema, como o livro “Caminhos da Educação Integral no Brasil”, publicado pelo selo Penso. 

“O Brasil optou, historicamente, por educar sua população de modo parcial. Aquilo que não é integral pode ser chamado de processo instrutivo ou etapa formativa. Contudo, a educação em sua plenitude deve ser integral”, explica Moll.  

A ideia de educação integral remonta ao Manifesto dos Pioneiros, escrito por 26 educadores em 1932 – entre eles, Cecília Meireles. Ao oferecer diretrizes para uma política nacional de educação, o documento defendia “o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas do seu crescimento.”  

Desde então, outras iniciativas retomaram os conceitos da educação integral. Porém, sua principal característica se manteve: garantir uma formação completa, desenvolvendo os alunos em todas as suas dimensões – intelectual, física, emocional, social e cultural. 

A educação integral visa garantir uma formação completa, desenvolvendo os alunos em suas dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural.

Educação integral no Brasil

A educação no Brasil não por ser considerada integral. E o primeiro passo para mudar essa realidade é entender o que é a educação integral. 

O modelo leva para as salas de aula áreas geralmente excluídas do currículo regular, como a cultura, as artes, os direitos humanos e a educação ambiental. E, assim, promove conhecimentos que vão além dos conteúdos disciplinares básicos.  

Paralelamente, há a educação em tempo integral, proposta reconhecida na Meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE). Nesse caso, o objetivo é que no mínimo 50% das escolas públicas ofereçam jornada em tempo integral – em média, igual ou superior a sete horas diárias – de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica. 

Entretanto, de acordo com o último relatório de monitoramento das metas do PNE, publicado pelo Inep (Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), apenas 15,1% dos alunos foram contemplados pela educação em tempo integral até 2021.  

Para Moll, a educação integral – e em tempo integral – tem sido abandonada ao longo da história do Brasil. “Em 1937, 1964 e 2016, por exemplo, o caminho para uma sociedade plena, democrática e desenvolvida por meio da educação foi interrompido pelas forças do atraso”, afirma.   

Daqui para frente, a autora defende uma revisão na forma como o dinheiro é investido na educação. “Temos que ter financiamento com propósito, pois investimento sem objetividade se perde facilmente”, completa.  

Professores e a educação integral 

A formação adequada de professores, gestores e demais profissionais da área é uma parte importante na construção da educação integral. Mas as capacitações devem levar em conta o cotidiano dos docentes.  

Afinal, o contexto educacional brasileiro possui dificuldades e singularidades que precisam ser observadas. Moll ressalta, por exemplo, que as relações de trabalho dentro das escolas estão fragilizadas pela falta de investimento e atenção ao tema.  

“Um exemplo do problema são profissionais temporários. Na escola, não pode haver esse tipo de coisa, pois as equipes precisam acompanhar os estudantes, entender seus desafios, desejos de avanço e reconhecer suas habilidades individuais”, explica. 

Resultados da educação integral  

A educação integral pode ser a base para uma renovação nas estruturas educacionais do Brasil. E, como a educação é a base central da formação dos cidadãos, o resultado final seria o desenvolvimento da própria sociedade.  

Por isso, o Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) lançou o Centro de Evidências da Educação Integral, uma iniciativa que busca divulgar informações sobre o tema. Um dos estudos, por exemplo, constatou que o benefício social da educação integral é seis vezes maior que o seu custo. 

“A agenda do ensino integral começou a avançar no Brasil graças às evidências sobre os impactos para os estudantes e toda a sociedade”, diz presidente do Insper, Marcos Lisboa, no evento de lançamento do Centro de Evidências da Educação Integral. 

O crescimento da economia do país e da empregabilidade dos jovens estão entre os benefícios da educação integral.  

“A maioria dos jovens hoje possuem trabalhos precários. Isso só é rompido com um processo educacional completo e permanente. Portanto, a relação da educação integral com o desenvolvimento de um Estado sustentável e soberano é total”, afirma Moll. 

Fonte: https://desafiosdaeducacao.com.br/educacao-integral/?_ga=2.211405717.1661112017.1660134496-1184621037.1658952478&_gl=1*13ilcm4*_ga*MTE4NDYyMTAzNy4xNjU4OTUyNDc4*_ga_VSYFTV62BF*MTY2MDIxNTIwOS4xMy4wLjE2NjAyMTUyMDkuMA

22 de agosto de 2022
Educação integral: desafios e perspectivas nas escolas brasileiras
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