No componente curricular Projeto de Vida, iniciamos o ano estudando sobre a importância da interação do ser humano no espaço social. A pesquisa desencadeou nas questões do meio ambiente e do consumismo, que têm dominado a sociedade contemporânea – cotidianamente, ouvimos muito sobre consumo e desperdício.
Pensando na degradação que a natureza sofre quando seus recursos são retirados e não repostos, e também no descarte inapropriado de todo o lixo produzido (bem como na poluição e seus malefícios, que, infelizmente, ocasionam inúmeros riscos a todos os seres vivos), nós, professora e um grupo de sete alunos do 2º ano do ensino médio do Colégio Modelo de Itabuna, em Itabuna (BA), pensamos e entendemos a importância de tratarmos do reaproveitamento de partes de alimentos que são jogados fora e têm alto valor nutricional.
Muitas pessoas estão passando pelo processo de insegurança alimentar, e entendemos que o momento pedia a nossa ação e intervenção para ajudar as pessoas da comunidade do entorno da nossa escola. Além do mais, chamamos a atenção aos produtos que são constantemente descartados, por falta de conhecimento de como reaproveitá-los de modo alternativo.
Para tanto, a pergunta que nos inquietou e despertou a construção do projeto de pesquisa/intervenção na aula de Projeto de Vida: “Como o reaproveitamento de partes de alimentos que são jogados fora e têm rico valor nutricional podem ser transformados em receitas, e estas ensinadas às pessoas atendidas pelo restaurante popular do bairro Nova Itabuna”?
Se pesquisarmos na internet, encontramos várias receitas testadas que são realizadas com cascas de frutas e verduras, talos, folhas, casca de ovo, dentre outros, que podem estar à mesa alimentando àqueles que estão em situação de insegurança alimentar. Entretanto, muitos desconhecem tal informação. Eis o porquê de a presente investigação ser tão importante, uma vez que proporcionou diversas contribuições sociais, tais como: a diminuição em relação à produção de lixo orgânico, conscientização sobre o reaproveitamento e como ele pode ser um bom meio de alimentação alternativa, auxiliando a reduzir a insegurança alimentar de muitos moradores da cidade.
Para isso, com o total apoio da gestão da nossa escola, a diretora Ednailza Miranda Carvalho Aboboreira. Fizemos parceria com a ONG Espaço Educativo Santa Maria Madalena, que acompanha 50 crianças e adolescentes e suas famílias. Também contamos com o apoio do restaurante popular Bom Samaritano, da Igreja Católica Santa Maria Madalena, dirigido pelo padre Tony Valério. O espaço sediou uma oficina oferecida a pessoas do bairro, com o intuito de ensiná-las a utilizar alimentação alternativa e saborosa, por meio do reaproveitamento, ajudando a saciar a fome, nesse momento da história do Brasil em que a inflação tem encarecido tantos produtos essenciais da cesta básica.
Nossa metodologia seguiu os seguintes passos:
– Estudos preliminares sobre Projeto de Vida e meio ambiente.
– Criação de grupos para a leitura de textos do livro didático “Projeto de Vida: Pensar, sentir e agir” e de artigos relacionados ao tema.
– Construção do problema, dos objetivos da pesquisa, bem como a metodologia.
– Estudo sobre alimentação alternativa.
– Contato com o responsável geral do restaurante popular do bairro.
– Elaboração e aplicação da entrevista semiestruturada.
– Tabulação dos dados e busca de parceiros(as) cozinheiros(as)
– Escolha e testagem das receitas no colégio, para a composição do livreto de receitas.
– Realização da oficina de alimentação alternativa às pessoas da comunidade e distribuição do livreto de receitas.
– Aplicação de novo questionário aos participantes da oficina.
– Tabulação dos dados.
– Comparação do primeiro com o segundo questionário.
Os dados da nossa pesquisa estão sendo divulgados no perfil do Instagram @projetodevidameioambiente.
Tivemos resultados já no dia seguinte da realização da oficina, quando a assistente social responsável pela ONG, Márcia Lírio, começou a enviar as fotos dos pratos que as participantes fizeram em suas casas. Nós ficamos tão felizes, tão realizados! Esperamos que o projeto seja replicado em outras escolas.
Também faremos uma apresentação na Feira de Ciências da escola. O projeto foi selecionado para participar da FECIBA (Feira de Ciências, Empreendedorismo e Inovação da Bahia), que ocorrerá entre os dias 8 e 10 de novembro de 2022.
Assim, acreditamos que mediante o olhar para a população do entorno da escola e a observação das necessidades nesse contexto de insegurança alimentar, convocar e sensibilizar a comunidade escolar para as demandas sociais, apresentamos o projeto “Alimentação Alternativa”. A proposta é contribuir para que esses novos saberes sejam divulgados, com vista a ajudar no processo de articular oficinas locais. Isso apoiará a escola a assumir seu papel ativo na engrenagem social, bem como o protagonismo e a participação de estudantes enquanto agentes que constroem com suas mãos conhecimento – e transformam o mundo ao seu redor.
Para replicar o projeto, é possível seguir os passos acima, e ter a sensibilidade de saber que muitos brasileiros e brasileiras passam fome. Podemos ajudá-los a ter, minimamente, a dignidade de uma alimentação.
Fonte: https://porvir.org/em-aula-de-projeto-de-vida-grupo-cria-livro-de-receitas-que-reaproveitam-alimentos/