O Brasil precisa valorizar o professor e dar atenção especial aos que trabalham em áreas vulneráveis, diz especialista brasileira

A especialista em educação Claudia Costin, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que viaja com frequência para palestras na Argentina, analisou nesta entrevista a trajetória e desafios do setor nos dois países.

Para a especialista Claudia Costin, da FGV, o Brasil avançou na área de educação, mas ainda falta. Falta, por exemplo, disse, valorizar a profissão de professor e dar atenção especial aos que trabalham em áreas vulneráveis. Para ela, “nenhum sistema educacional é melhor que a qualidade dos seus professores”.

Nesta entrevista pelo telefone ao Clarín em Português, Claudia Costin falou também sobre a situação na Argentina e os desafios da educação e do emprego na era digital. O mundo não vai esperar o Brasil, mesmo sendo uma das maiores economias do planeta, diz a especialista que é professora visitante na Faculdade de Educação de Harvard e Diretora Geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV do Rio de Janeiro. Ela também integra a Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho da Organização internacional do Trabalho (OIT).

Claudia Costin é professora visitante na Faculdade de Educação de Harvard e Diretora Geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV do Rio de Janeiro. (Foto: FGV).
Claudia Costin é professora visitante na Faculdade de Educação de Harvard e Diretora Geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV do Rio de Janeiro. (Foto: FGV).

A seguir a entrevista:

– A Argentina está vivendo uma séria crise econômica. A crise também afeta a educação, não?

Afeta, afeta sim, porque isso dificulta pagar salários melhores aos professores, mas também pode ser uma oportunidade. Tem países, como a Coreia do Sul, por exemplo, que no meio de uma crise muito grande, resolveram priorizar a educação sobre outras áreas. E em tempos em que o capital intelectual é o mais importante para o desenvolvimento econômico, seria o momento de pensar: ‘Bom, com sacrifício vamos priorizar a educação’.

Para Claudia Costin, é preciso olhar para o que os melhores países no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) estão fazendo. (Foto Lucía Merle).
Para Claudia Costin, é preciso olhar para o que os melhores países no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) estão fazendo. (Foto Lucía Merle).

– Qual a sua visão sobre a educação no Brasil e na Argentina?

A Argentina tem uma educação que foi durante muito tempo de muita qualidade porque eles tiveram um presidente apaixonado por educação, que foi Domingo Sarmiento (1811-1888), no século 19. Então, quando você fala, por exemplo, de 1930, que é pegar uma coisa que permite comparar o Brasil com a Argentina, a Argentina já tinha em 1930, 62% das crianças na educação primária e o Brasil tinha só 21,5%.

– Quase três vezes menos.

No final da década de 1960, essa tal educação que dizem que no Brasil era de muita qualidade, e piorou tanto depois, na verdade não é que era de qualidade, mas é que era só para 40% das crianças. E a Argentina já tinha, no final da década de 1960, universalizado o acesso à educação primária.

– O que o Brasil só faria para a educação primária no final dos anos 1990…

Sim, o Brasil faz isso para a primária, no final dos anos 1990, e para o que chamam na Argentina de secundária, com termos que variam de província para província, e que é o nosso Fundamental 2, só no século 21. Então, parte do atraso brasileiro, em termos de qualidade, se deve ao fato de que os pais das crianças tiveram muito poucos anos de escolaridade. E a escola era de qualidade enquanto ensinava os filhos dos letrados, mas não aprendeu a construir qualidade para todos.

– Qual é a situação hoje no Brasil?

O número de anos nas escolas foi aumentando, mas não foi tão rápido. Embora se tivesse acesso, o acesso não quer dizer conclusão, não é? Hoje, pouco menos de 80% completam o Ensino Fundamental 2, então não é todo mundo que vai para o Ensino Médio também. Os pais estudaram pouco e 68% do sucesso escolar de uma criança depende da escolaridade dos pais (de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, 2016).

Então, parte do problema do Brasil é de qualidade. Parte tem a ver com políticas públicas equivocadas, mas uma parte é por razões históricas. E a Argentina não viveu isso. Eles, por conta de Sarmiento, não viveram essa parte do problema. Viveram outros porque eles também têm problemas de qualidade sérios hoje.

Claudia Costin costuma dar palestras sobre educação na Argentina. Ela foi ministra da Administração e Reforma do Estado durante o governo Fernando Henrique Cardoso (entre 1995 e 2000).
Claudia Costin costuma dar palestras sobre educação na Argentina. Ela foi ministra da Administração e Reforma do Estado durante o governo Fernando Henrique Cardoso (entre 1995 e 2000).

– A Argentina tem também hoje um problema de evasão escolar, que antes não tinha.

Esse problema ocorre nos dois países.

– Quais são, na sua opinião, os principais motivos para a evasão escolar hoje?

"A educação traz em si a promessa de que ela pode ser instrumento de ascensão social, de geração de igualdade e de oportunidade, mas se eu trato os mais pobres com baixas expectativas de aprendizagem, todas as pesquisas mostram que essa criança vai acabar tendo um desempenho pior". (FOTO:ANDRES LARROVERE/LOS ANDES).
“A educação traz em si a promessa de que ela pode ser instrumento de ascensão social, de geração de igualdade e de oportunidade, mas se eu trato os mais pobres com baixas expectativas de aprendizagem, todas as pesquisas mostram que essa criança vai acabar tendo um desempenho pior”. (FOTO:ANDRES LARROVERE/LOS ANDES).

A evasão escolar ocorre por uma série de motivos. Um deles é que como, no caso do Brasil, os pais não avançaram nos seus estudos, uma parte dos alunos não considera importante continuar na escola, especialmente quando a escola lhes parece desinteressante. A escola, no século 21, em que mesmo alunos de meios muito vulneráveis têm um celular na mão e acesso à internet, passou a ser desinteressante com as metodologias de ensino em que o professor escreve no quadro e os alunos copiam. Essas metodologias não fazem mais tanto sentido para os jovens. Esse é um dos motivos da evasão escolar. O outro motivo, especialmente para as meninas, e isso vale tanto para a Argentina quanto para o Brasil, é a gravidez precoce. A menina engravida, não se sente confortável com isso, ou não tem quem a apoie nessa situação, e abandona a escola. Boa parte dos chamados ‘nem nem’ (nem estuda e nem trabalha), entre as meninas, são jovens que ou casaram cedo demais ou, simplesmente, ficaram grávidas.

– Adolescência e pré-adolescência?

Estou falando mais da adolescência.

– E entre os meninos?

Entre os meninos é mais o desinteresse pela escola, o que pode ser, como comentei, por causa da pedagogia muito tradicional, ou porque eles vão trabalhar, muitas vezes, no mercado informal.

– Para ajudar a família…

Ou para ajudar a família ou porque abandonam [os estudos] pensando que vão voltar depois, mas não conseguem. Mas tem um fator que acelera o abandono escolar, e que é típico tanto da Argentina quanto do Brasil, que é uma alta taxa de repetência especialmente no Ensino Médio.

– A repetência também é justificada pela distância entre a metodologia ainda aplicada, com quadro-negro, e a era das novas tecnologias?

Talvez parte disso, mas tem um fator que agrava um pouco isso. Quando as escolas ensinavam só para crianças do meio urbano, que é o caso do Brasil, e filhos de letrados, se uma criança tinha dificuldades escolares, os pais a levavam para um professor particular ou para uma aula de reforço. E, além disso, no curso de formação de professores não se ensina a ser um assegurador de aprendizagem. Porque um professor que vai lidar com crianças de um meio mais vulnerável sabe que se elas não aprenderem durante as aulas, elas não terão aula particular para resolver o problema. Os sistemas educacionais também não criaram sistemas de recuperação de aprendizagem para aqueles que têm mais dificuldade.

"A Argentina tem uma educação que foi durante muito tempo de muita qualidade porque eles tiveram um presidente apaixonado por educação, que foi Domingo Sarmiento (1811-1888)", disse Claudia Costin.
“A Argentina tem uma educação que foi durante muito tempo de muita qualidade porque eles tiveram um presidente apaixonado por educação, que foi Domingo Sarmiento (1811-1888)”, disse Claudia Costin.

– Existe, então, na sua visão, um problema antigo do próprio sistema e a falta de uma nova preparação para o professor, seja para atender às crianças de áreas vulneráveis ou pela distância entre o ensino do quadro e a era digital.

Falta apoio para esse professor também. Porque o professor não consegue fazer tudo sozinho, porque recuperar a aprendizagem dos que têm mais dificuldade demanda ações dos Ministérios da Educação, das Secretarias de Educação para que essa criança, esse jovem, possa recuperar a aprendizagem. No Brasil, os problemas de aprendizagem começam cedo, apesar de a gente ter tido tantos avanços em acesso à educação nos últimos anos. Se a gente falar, por exemplo, sobre crianças do terceiro ano do Ensino Fundamental, que são crianças com quase nove anos, quase 55% delas saem analfabetas do terceiro ano (segundo o INEP – 2016). Elas estão em um nível insuficiente de leitura e também de matemática. É curioso porque quando eu conversei com um dos ministros de Educação da Argentina sobre isso, ele falou: ‘Olha, é muito provável que isso também esteja acontecendo na Argentina’.

– Esses quase 55% das crianças com quase nove anos…

Esse problema das crianças analfabetas…

– Ao definir analfabeta, a referência é a uma criança que não sabe ler nada? Ou que lê e não entende?

É uma criança com nível muito insuficiente de leitura para uma criança de terceiro ano. Ou seja, ela não consegue ler uma frase inteira, não consegue ler um parágrafo. É quase este mesmo índice, 54,4%, com aprendizado insuficiente em matemática.

No Brasil?

Sim, no Brasil. E quando chega no quinto ano, uma parte dos que não estavam com nível suficiente consegue resolver porque tem professor primário que sabe trabalhar com criança, que ainda é professor alfabetizador. Então, uma parte desses alunos que não se alfabetizaram até os nove anos supera isso até o final do quinto ano em português. Mas a deficiência em matemática continua. Só 48,9% têm aprendizado adequado em matemática no quinto ano.

– Por que quinto ano?

Falo sobre o quinto ano porque existe a Prova Brasil, que é a prova aplicada no quinto ano. E então temos esse dado. Mas só que vai indo para a frente e no nono ano as coisas pioram mais ainda. No nono ano, o índice é de 21% para os que aprenderam matemática adequadamente. O nono é o ano final do secundário inferior, o que chamamos de Fundamental 2.

Entre os motivos da evasão escolar está a gravidez entre adolescentes, ressalta a especialista. Mas metodologias antigas de ensino quando todos têm celular é outro motivo, disse.
Entre os motivos da evasão escolar está a gravidez entre adolescentes, ressalta a especialista. Mas metodologias antigas de ensino quando todos têm celular é outro motivo, disse.

– Ou seja, apesar dos avanços do Brasil, os desafios ainda são grandes. Mas, na sua opinião, ocorreram avanços?

Houve avanços sim. Mas só que os avanços estão ocorrendo lentamente demais. Houve avanços em aprendizagem. E por que sei que eles ocorreram? A cada edição dessa Prova Brasil, a que eu me referi, os índices vêm melhorando. Ela é aplicada a cada dois anos, no quinto ano e no nono ano.

– E a qualidade ainda requer uma atenção especial.

Requer uma atenção. Mas deixa eu te dar uma boa notícia também. A gente fez no Brasil algumas coisas muito importantes no período mais recente. E aqui não estou especificando governos. Nós tivemos avanços importantes em algumas coisas que precisam ser destacadas e que vão nos ajudar no futuro a avançar mais rápido em educação. Primeiro, o Brasil, se a gente comparar com os 30 primeiros colocados no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Aluno), que é o teste internacional de qualidade da educação que é aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e por alguns países que aderem…

– A Argentina anda em baixa no PISA.

Anda sim. A Argentina está atrás do Brasil em leitura, no PISA de 2018. O Brasil está péssimo em leitura, mas a Argentina está atrás. E a Argentina tem uma população adulta que lê. Então, eu acho que é nos momentos de crise que se constrói o sentido de urgência de transformar alguma coisa. Tem uma coisa de profundamente errado que está acontecendo e que precisa ser resolvida.

Claudia Costin entende que é fundamental valorizar a profissão do professor. Na sua visão, os que trabalham em áreas vulneráveis, como as favelas, devem ter atenção especial.
Claudia Costin entende que é fundamental valorizar a profissão do professor. Na sua visão, os que trabalham em áreas vulneráveis, como as favelas, devem ter atenção especial.

– Como melhorar essa situação?

Olhar para o que os 30 melhores no PISA estão fazendo, porque se países de diferentes contextos estão indo bem, poderíamos tentar replicar algumas coisas. Uma coisa que todos esses 30 países têm em comum é que todos têm um currículo nacional (que estabelece as aprendizagens básicas que toda a criança e jovem do Brasil deve ter). Não é que ter currículo resolve todos os problemas. Mas esse é um dos elementos importantes para garantir duas coisas importantes em educação: melhorar a aprendizagem de todos e diminuir a desigualdade educacional.

– Como funciona na prática?

Ou seja, exigir mais tempo de aprendizado nas escolas porque hoje a formação de professores coloca uma ênfase muito grande em teoria e quase nada em vivência profissional. É assim também na Argentina e no resto da América Latina, com exceção do Chile e do Uruguai.

– Mas…

Nenhum sistema educacional é melhor que a qualidade dos seus professores. Se a gente não tornar a profissão de professor mais atrativa, a gente vai avançar pouco.

– Como fazer isso?

Isso passa pela remuneração dos professores, passa pelo reconhecimento social da carreira de professor. E quando falo em reconhecimento social, não é ter pena do professor, é passar a tratar o professor como um profissional, o que, infelizmente, ainda não é realidade no Brasil. Então, tem que construir um caminho para que isso seja possível.

"É essa ideia que você tem que desenvolver no jovem, a de competências digitais. Que ele possa saber lidar com um mundo das redes sociais e, portanto, com a multiplicação de notícias falsas. Que ele possa aprender, inclusive, cidadania digital".
“É essa ideia que você tem que desenvolver no jovem, a de competências digitais. Que ele possa saber lidar com um mundo das redes sociais e, portanto, com a multiplicação de notícias falsas. Que ele possa aprender, inclusive, cidadania digital”.

– Existe ainda a questão da era digital.

Com certeza. É essa ideia que você tem que desenvolver no jovem, a de competências digitais. Que ele possa saber lidar com um mundo das redes sociais e, portanto, com a multiplicação de notícias falsas. Que ele possa aprender, inclusive, cidadania digital.

– Que ele passe a ter aulas sobre essa realidade, com a qual ele já convive, mas não na sala de aula.

Lógico. E é curioso porque algumas pessoas falam, ‘ah, mas se não está nem alfabetizando direito, como vocês querem pensar as competências do século 21?’ Mas o problema é que o mundo não vai esperar pelo Brasil. A nona economia, em termos de PIB, não pode se dar ao luxo de dizer ‘olha, sabe, a gente então vai parar e vai olhar só para matemática e português porque a gente não está conseguindo…’. Nós vamos ter que enfrentar nossos desafios e, de alguma maneira, saltar etapas. Continuar a resolver os problemas da escola do século 20, que a gente ainda não resolveu, a escola que ensina a ler bem e matemática direito e desenvolve um repertório cultural nos alunos, mas nós temos que enxergar que já estamos vivendo a quarta revolução industrial. Ou seja, a inteligência artificial está substituindo o trabalho humano, mesmo aquele que demanda competências intelectuais. Ou a gente desenvolve competência de nível mais sofisticado nos alunos, inclusive nos alunos de meios mais vulneráveis, ou não vai haver empregabilidade e nem capacidade de empreendedorismo para a nossa juventude.

– A questão do trabalho é um desafio no Brasil e existe a mesma preocupação também nos outros países da América Latina.

Com certeza também nos outros países da América Latina. Mesmo quando eu falo do Chile, que é o melhor país da América Latina, medido pelo PISA, e inclusive no último PISA, ou do Uruguai, que é o segundo depois do Chile, todos eles estão no terço inferior do ranking do PISA. Com o advento da quarta revolução industrial, a gente já vê nos países a diminuição de postos de trabalho de jornalistas, de advogados.

E isso em várias atividades que demandam nível superior. Se a gente não acordar para isso, a gente vai aumentar ainda mais a desigualdade no Brasil e, portanto, a violência. A política de segurança vai ter cada vez mais ameaças porque a desigualdade produz violência.

– Ou seja, a América Latina que é a mais desigual do planeta, tem que dar uma atenção intensa à educação para também não piorar os índices de segurança, como a senhora observou. E como nós saímos, no Brasil, de dizer coisas como ‘quer puxar a carroça’, nos anos 1960, aos avanços dos anos 1990 e a uma preocupação em diferentes setores sobre a importância de se melhorar a educação?

Para muitas funções, postos de trabalho vão ser extintos. Tem alguns profetas do apocalipse dentro da universidade que chegam a falar de dois bilhões de postos de trabalho que vão ser extintos. Se não houver políticas públicas adequadas, de fato muitos postos de trabalho vão ser extintos e, embora outros tipos de trabalho sejam criados, com certeza, com a revolução industrial, com a mudança do mundo do trabalho, não serão para as mesmas pessoas. E não demandarão as mesmas competências. Por isso, eu celebro um pouco a base comum curricular porque ela foi muito ousada, em vez de se ater às competências cognitivas que a gente já sabia, o currículo inclui também competências para o século 21. Eu dei o exemplo de competências digitais. Mas algumas competências muito importantes para o século 21 também vão ser aquelas que os humanos fazem, porque o robô não vai ter empatia, para dar um exemplo. As competências socioemocionais estão presentes na base. E também as competências ligadas ao pensamento crítico, à capacidade de análise mais profunda, que o robô não pode fazer.

Mas acho que algumas coisas que o Brasil fez vão nos colocar na rota para melhorar a qualidade da educação, desde que a gente tenha, além das ideias, capacidade de implementação dessas políticas educacionais que são necessárias para o futuro.

Claudia Costin afirma que a educação traz em si a promessa de que ela pode ser instrumento de ascensão social e de oportunidade. Mas é preciso acreditar nas crianças de baixa renda para que elas se sintam estimuladas.
Claudia Costin afirma que a educação traz em si a promessa de que ela pode ser instrumento de ascensão social e de oportunidade. Mas é preciso acreditar nas crianças de baixa renda para que elas se sintam estimuladas.

– O Brasil adotou medidas que outros não adotaram.

Como temos concurso público para professor, e desde que esse concurso seja bem feito e tenha uma prova didática e não só a prova em si, de acesso à profissão, isso é positivo. Mas tem uma coisa que ajudou muito aqui no Brasil, que foi o Movimento Todos pela Educação, o fato de que exista um movimento da sociedade civil, muito forte, para dar qualidade à educação brasileira. Ele foi fundado em 2006, e era um pouco na esteira no fato de que a gente já tinha universalizado o acesso, mas que a gente já começava a constatar que não havia qualidade. O Movimento Todos pela Educação organizou cursos para qualificar os jornalistas na cobertura de educação. Esse movimento, aqui no Brasil, nos ajudou muito para pressionar governos para que as coisas certas fossem feitas.

– Sobre a formação do professor…

Em áreas de maior vulnerabilidade, por exemplo no caso brasileiro, em favelas conflagradas, que ainda estão sob controle do narcotráfico ou das milícias, você tem um pouco de ação afirmativa. Para mim quer dizer dar mais para quem tem menos. Nessas escolas, os professores deveriam ganhar mais. O outro ponto dentro dessa abordagem sistêmica é o poder público criar sistemas de recuperação de aprendizagem. Se a criança chegou ao sexto ano analfabeta, ela precisa de apoio. Apoiar, ter uma abordagem sistêmica para aquele que está dois anos atrás da sua turma, para que ele não se sinta frustrado e mais adiante acabe deixando os estudos. A gente tinha que ter um sistema de educação que gere altas expectativas para todos e não ter baixas expectativas para os pobres. Porque senão há uma grande injustiça.

A educação traz em si a promessa de que ela pode ser instrumento de ascensão social, de equidade, de geração de igualdade e de oportunidade, mas se eu trato os mais pobres com baixas expectativas de aprendizagem, todas as pesquisas mostram que essa criança vai acabar tendo um desempenho pior, se eu tenho baixa expectativas em relação a ela. A criança entende que espera-se pouco dela e, portanto, ela tem um desempenho baixo.

– Falta estímulo?

Falta a gente passar para essa criança que ela é capaz de aprender.

Fonte: https://www.clarin.com/clarin-em-portugues/reportagens/brasil-precisa-valorizar-professor-dar-aten-ao-especial-aos-trabalham-em-areas-vulneraveis-diz-especialista-brasileira_0_m5Hf5qhj.html

9 de março de 2020
O Brasil precisa valorizar o professor e dar atenção especial aos que trabalham em áreas vulneráveis, diz especialista brasileira
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