Outra questão relevante no debate é a evasão. O Ideb, por se basear em taxas de aprovação do Censo Escolar e em testes aplicados em estudantes matriculados, não retrata a realidade daqueles que já não estão mais na escola. Esta, porém, é uma informação relevante, pois um número significativo de jovens não chega a completar o ensino médio. Em 2023, por exemplo, três em cada dez jovens não havia completado o ensino médio até os 19 anos de idade, proporção que chega à metade se o recorte for apenas entre aqueles que estão entre os 20% mais pobres.
Como se vê, o ajuste fino de todas essas variáveis é complexo, mas o novo Ideb – e todo o Sistema de Avaliação da Educação Básica – precisa avançar na direção de um indicador – ou sistema de indicadores – que sinalizem para as redes que é preciso aumentar a aprendizagem, a aprovação e a permanência das crianças e jovens em toda sua trajetória da educação básica, com redução de desigualdades.
O grupo de trabalho criado pelo Inep ainda está elaborando sua proposta, mas, ao participar do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, em setembro, o presidente do órgão, Manuel Palácios, afirmou que a tendência é buscar estabelecer padrões de desempenho para os dois ciclos do ensino fundamental (o exercício para o ensino médio seria feito posteriormente, e na alfabetização isso já foi iniciado). “A proposta de maior apoio [no grupo de trabalho] é de manutenção de um indicador sintético, acrescido de uma cesta de indicadores em que você teria o novo Ideb e outros que mensurem adequadamente a desigualdade encontrada nos resultados educacionais, comparando diferentes grupos da população”
O debate sobre a reformulação de nosso sistema de avaliação da educação engloba também outras dimensões, além da equidade. Na nota técnica “Saeb e Ideb 2023: Recomendações para interpretar os resultados”, divulgada em agosto pelo Instituto Unibanco, discute-se também a necessidade de reformulação do conteúdo avaliado e do formato das provas. Por exemplo, é preciso lembrar que a matriz de base das provas de português e matemática não sofreu alterações desde 1995, ano da primeira avaliação em larga escala com resultados comparáveis na série histórica. Isso significa que a atual Base Nacional Comum Curricular, aprovada em 2017, não está adequadamente contemplada nas provas. Para esse ajuste, é necessário que os testes do Saeb meçam não apenas conhecimentos em matemática e língua portuguesa, mas, também, competências de todas as áreas abrangidas pela BNCC, incluindo também habilidades socioemocionais como responsabilidade e cidadania; pensamento científico, crítico e criativo; empatia e cooperação, entre outras.
Conforme consta da nota técnica do Instituto Unibanco, esse debate sobre novos conhecimentos e competências a serem avaliados precisará, necessariamente, passar também por uma discussão sobre o formato da prova, já que os testes impressos com questões de múltipla escolha são hoje insuficientes para mensurar competências e habilidades mais sofisticadas. O avanço nas tecnologias de aplicação de exames, além de permitir um retorno do diagnóstico mais ágil, facilita aqui a adaptação a novos formatos. Mas isso demandará investimento e planejamento na substituição do modelo atual por um mais moderno, que inclua, por exemplo, provas digitais e com possibilidade de respostas abertas (e não apenas de múltipla escolha).
Como se vê, não há respostas simples para todas essas e outras questões. Mas é consenso que o atual Sistema de Avaliação da Educação Básica – um reconhecido avanço das políticas públicas brasileiras na redemocratização – precisa ser aperfeiçoado, para melhor diagnosticar os conhecimentos, competências e habilidades necessárias para o pleno desenvolvimento de todas as crianças e jovens brasileiros no século XXI.