Setembro amarelo: saiba qual o papel da família e da escola na prevenção ao suicídio

Para especialistas, adultos devem saber interpretar os sinais e ouvir atentamente o que as crianças e, principalmente, os adolescentes têm a dizer

Na última semana, rumores de um possível atentado envolvendo estudantes do colégio Dante Alighieri dominaram grupos de WhatsApp e assustaram as famílias. Em junho, uma adolescente de 13 anos foi encontrada sem vida em um colégio particular de São Paulo. Em maio, mais de 20 alunos de uma escola estadual de Recife foram socorridos pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) após uma crise de ansiedade coletiva.

Notícias como essas chamam a atenção de especialistas e ascendem o sinal de alerta em pais, responsáveis e nas escolas. Neste sábado (10), Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o R7 ouviu especialistas para entender como cuidar da saúde mental de crianças e adolescentes, principalmente após o período de isolamento imposto pela pandemia de Covid-19.

“É importante dizer que o suicídio jamais é causado por um único fator, é um fenômeno complexo, com raízes sociais e subjetivas”, observa Caio Lo Bianco é idealizador e diretor do LIV  (Laboratório Inteligência de Vida).

O cuidado com a saúde mental deve ser realizado de forma coletiva, tanto da família como escola. “Muitas vezes, o professor vê que o aluno não está bem, outras, um funcionário da limpeza é quem percebe que o aluno fica isolado na hora do lanche”, explica Valdeli Vieira, psicóloga especialista no atendimento à infância e adolescência. “Escola, família e sociedade precisam olhar para o adolescente e avaliar alterações no comportamento que podem sinalizar um sofrimento psíquico.”

“Importante saber ler os sinais que os adolescentes dão, nem sempre eles vão verbalizar o que estão sentindo”, destaca Bianco. Vale observar se houve uma mudança brusca de conduta ou de comportamento, queda significativa no desempenho escolar (notas baixas, faltas), descuido com a higiene pessoal, alteração alimentar ou do sono.

Para os especialistas, só é possível observar esses sinais se escola e família abrirem espaço para o acolhimento. “Acolher significa sair da posição de autoridade e se colocar ao lado do estudante, significa dedicar tempo para ouvir e respeitar as opiniões”, diz Bianco.

Impacto da pandemia

Um levantamento divulgado pela Seduc-SP (Secretaria de Estado da Educação de São Paulo) em parceria com o Instituto Ayrton Senna mostrou que 70% dos alunos matriculados na rede tanto no ensino fundamental como no médio voltaram do isolamento imposto pela pandemia com sintomas de ansiedade e depressão.

Para os especialistas, a escola é um espaço sócio-afetivo onde ocorre o desenvolvimento emocional dos adolescentes. “É por meio da relação com o outro que eles vão aprender a lidar com as emoções, a manejar os aspectos agressivos da personalidade, controlar os impulsos e desenvolver habilidades socioemocionais”, observa a psicóloga. “Com a pandemia, o adolescente foi retirado deste espaço de formação coletiva e isso trouxe um impacto no desenvolvimento emocional.”

Para Bianco, a pandemia não chegou ao fim e os adolescentes retornam às atividades sem ter essa vivência fundamental para sua formação psíquica, além do luto. “Muitos viveram situações de perdas, de medo ou até conflitos em casa, por essa razão, o acolhimento é fundamental.”

19 de setembro de 2022
Setembro amarelo: saiba qual o papel da família e da escola na prevenção ao suicídio
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