Titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna no IEA-RP, Maria Helena Guimarães de Castro explica ao USP Analisa que primeira etapa da avaliação deveria ter questões apoiadas nas tecnologias
As mudanças trazidas pela implantação do Novo Ensino Médio geraram a necessidade de repensar também o Enem. O futuro desse exame, que avalia os estudantes na etapa final do Ensino Básico, tem provocado uma série de debates entre especialistas. O USP Analisa conversou sobre esse tema com a professora Maria Helena Guimarães de Castro, que é a titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional, sediada no Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP.
Segundo ela, o ideal seria aplicar uma prova que avalie a formação geral básica para todos e, conforme o Ministério da Educação reorganizar os itinerários dentro das quatro áreas do conhecimento (Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagens e Matemática), ter um núcleo de competências gerais de cada uma delas para oferecer avaliações de acordo com a escolha do estudante. A professora inclusive deu essa sugestão em um parecer sobre o tema elaborado no ano passado no Conselho Nacional de Educação, o qual ela presidia.
“Seria uma prova como o Pisa. O Pisa é uma avaliação do qual participam 85 países. O pressuposto é: até os 15 anos, os alunos terão a formação geral básica de todas as disciplinas e daí o Pisa apresenta uma prova de linguagens, uma prova de matemática, uma prova de ciências onde todas as perguntas são interdisciplinares. São 40% questões abertas e o resto, múltipla escolha. São questões que se apoiam nas tecnologias. Assim deveria ser o Enem da primeira etapa, uma prova apoiada nas tecnologias, provas digitais, provas com questões abertas e múltipla escolha, provas que vão trabalhar a capacidade de compreensão do aluno, de leitura, e como ele aplica esses conhecimentos em relação a determinados fenômenos”, explica Maria Helena.
Ela destaca que é preciso trazer as universidades para a discussão sobre as provas que avaliam os itinerários formativos, já que elas seriam utilizadas como acesso ao Ensino Superior. Para Maria Helena, a participação dessas instituições é necessária inclusive para que se debata a evasão, que tem taxas altas até mesmo em universidades públicas como a USP, segundo pesquisa recente divulgada pelo Inep.
“A USP é a melhor universidade do Brasil, está entre as cem melhores do mundo. Mas, mesmo assim, tem uma taxa de evasão e abandono muito alta. O reitor reclama dessa taxa. A pesquisa que o Inep acabou de divulgar mostrou uma média de abandono e evasão das universidades públicas de 50%. De cada cem que ingressam, 50 se formam. É a pesquisa do Inep, de itinerários. É um absurdo! Você veja, é uma universidade de qualidade, é uma universidade gratuita. Por que é que os alunos abandonam? E nas privadas, a taxa média de abandono e evasão é de 62%. O que é que está errado? Será que nós precisamos mudar o quê? Eu acho que esse debate nós precisamos fazer”, alerta ela.
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